Panthera onca
A onça-pintada (nome científico: Panthera onca), também
conhecida por pintada, onça-verdadeira, jaguar, jaguarapinima, jaguaretê, acanguçu,
canguçu, tigre5 e "onça-preta" (somente no caso dos indivíduos
melânicos), é uma espécie de mamífero carnívoro da família Felidae encontrada
nas Américas. É o terceiro maior felino do mundo, após o tigre e o leão, e o
maior do continente americano. Ocorria nas regiões quentes e temperadas, desde
o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina, estando, hoje, porém,
extinta em diversas partes dessa região. Nos Estados Unidos, por exemplo, está
extinto desde o início do século XX, apesar de relatos de que possivelmente
ainda ocorre no Arizona.
Se assemelha ao leopardo fisicamente, se diferindo desse,
porém, pelo padrão de manchas na pele e pelo tamanho maior. As características
do seu comportamento e do seu habitat são mais próximas às do tigre. Pode ser
encontrada principalmente em ambientes de florestas tropicais, mas também é
encontrada em ambientes mais abertos. A onça-pintada está fortemente associada
com a presença de água e é notável, juntamente com o tigre, como um felino que
gosta de nadar. É, geralmente, solitária. É um importante predador,
desempenhando um papel na estabilização dos ecossistemas e na regulação das
populações de espécies de presas. Tem uma mordida excepcionalmente poderosa,
mesmo em relação aos outros grandes felinos.6 Isso permite que ela fure a casca
dura de répteis como a tartaruga e de utilizar um método de matar incomum: ela
morde diretamente através do crânio da presa entre os ouvidos, uma mordida
fatal no cérebro.7 8
Está ameaçada de extinção e seu número está em queda. As
ameaças à espécie incluem a perda e a fragmentação do seu habitat. Embora o
comércio internacional de onças ou de suas partes esteja proibida, o felino
ainda é frequentemente morto por seres humanos, particularmente em conflito com
fazendeiros e agricultores na América do Sul. Apesar de reduzida, sua
distribuição geográfica ainda é ampla.
A onça faz parte da mitologia de diversas culturas indígenas
americanas, incluindo a dos maias, astecas e guarani. Na mitologia maia, apesar
de ter sido cotada como um animal sagrado, era caçada em cerimônias de
iniciação dos homens como guerreiros.
Etimologia
"Onça" origina-se do termo grego lygx, através do
termo latino luncea e do termo italiano lonza.5 No Brasil, o nome
"onça-pintada" é o mais utilizado, sendo que "pintada" é
uma alusão à pelagem cheia de manchas e rosetas, ao contrário da outra
"onça", a onça-parda.5
"Jaguar" origina-se do termo tupi ya'wara, e pode
ser traduzido como "fera" e até "cão", já que o termo era
utilizado pelos indígenas para se referir a qualquer "fera" antes da
chegada dos europeus.9 Com a colonização européia e a chegadas dos cães, a
palavra passou a ser usada apenas como referência aos cachorros, e
"ya'wara-etê" passou a se referir à onça-pintada, originando o termo
"jaguaretê".9 Este último termo significa "fera
verdadeira", através da junção de ya'wara (fera) e eté (verdadeiro).9
"Yaguareté" é um nome usado em países de língua espanhola em que há
muitos descendentes dos guaranis, como a Argentina e Paraguai.9
"Acanguçu" e "canguçu" originam-se do termo tupi akãgu'su,
que significa "cabeça grande", através da junção de akanga (cabeça) e
usu ("grande").5 "Jaguarapinima" vem do tupi ya'wara (onça)
e pi'nima (pintada)5 . "Tigre" é um termo de origem iraniana.5
A designição "pantera", vem do latim, panthera,
que também é o primeiro componente do nome científico. Panthera, em grego, é
uma palavra para leopardo, πάνθηρ. A palavra é uma composição de παν-
"todos" e θήρ vem de θηρευτής "predador", significando
"predador de todos" (animais), apesar de que esta deve ser
considerada uma etimologia popular.10 A palavra deve ter uma origem do
Sânscrito, "pundarikam", que significa "tigre".11
Taxonomia e evolução
A onça-pintada é o único membro atual do gênero Panthera no
Novo Mundo. Filogenias moleculares evidenciaram que o leão, o tigre, o
leopardo, o leopardo-das-neves e o leopardo-nebuloso compartilham um ancestral
em comum exclusivo, e esse ancestral viveu entre seis e dez milhões de anos
atrás apesar do registro fóssil apontar o surgimento do gênero Panthera entre 2
000 000 e 3 800 000 de anos atrás.12 13 Estudos filogenéticos geralmente
mostram o leopardo-nebuloso como um táxon basal ao gênero Panthera.12
Baseado em evidências morfológicas, o zoológo britânico
Reginald Pocock concluiu que a onça-pintada é mais próxima ao leopardo.14
Entretanto, filogenias baseadas no DNA são inconclusivas à posição da
onça-pintada em relação às outras espécies do gênero, mas coloca a onça-pintada
como mais próxima do leão.12 Fósseis de espécies extintas do gênero Panthera,
como o jaguar-europeu (Panthera gombaszoegensis) e o leão-americano(Panthera
atrox), mostram características tanto da onça-pintada quanto do leão.14
Entretanto, é possível que o jaguar-europeu seja uma subespécie da atual
onça-pintada.15 Análise do DNA mitocondrial apontam para o surgimento da
espécie entre 280 000 e 510 000 anos atrás, bem depois do que é sugerido pelo
registro fóssil.16
Ancestral asiático
Apesar de habitar o continente americano, a onça-pintada
descende de felinos do Velho Mundo. Cerca de 2,87 milhões de anos atrás, a
onça-pintada, o leão e o leopardo, compartilharam um ancestral comum na Ásia.17
12 No início do Pleistoceno, os precursores da atual onça atravessaram a
Beríngia e chegaram na América do Norte: a partir daí alcançaram a América
Central e a América do Sul.17 A linhagem da onça-pintada se separou da linhagem
do leão (que compartilham um ancestral comum exclusivo, sendo a espécie mais
próxima da onça-pintada), há cerca de 2 milhões de anos.12
Subespécies e Variação Geográfica
A última delineação taxonômica foi feita por Pocock em 1939.
Baseado em origens geográficas e morfologia de crânio, ele reconheceu oito
subespécies. Entretanto, ele não teve acesso a um número suficiente de
espécimes para fazer uma análise crítica das subespécies, e expressou dúvida
sobre a validade de várias delas. Uma reconsideração posterior reconheceu
apenas três subespécies.18
Estudos recentes não demonstraram a existência de
subespécies bem definidas, e muitos nem reconhecem a existência delas.19 Larson
(1997) estudou a variação morfológica na onça-pintada e demonstrou que existe
variação clinal entre a ocorrência sul e norte da espécie, mas a variação
dentro das subespécies é maior do que entre elas, e portanto, não há garantia
da existência das subespécies.20 Um estudo genético confirmou a ausência de
divisões geográficas entre as populações, apesar de que foi demonstrado que
grandes barreiras geográficas, como o rio Amazonas, limita o fluxo gênico entre
as populações.16 Um estudo subsequente, caracterizou mais detalhadamente a
variação genética e encontrou diferenças populacionais nas onças da Colômbia.21
As divisões de Pocock (1939) ainda são regularmente citadas
em muitas decrições do felino. Seymour reconhece apenas três subespécies.18
Panthera onca onca: Venezuela através da bacia amazônica,
incluindo
P. onca peruviana : costa do Peru
P. onca hernandesii : oeste do México – incluindo
P. onca centralis : El Salvador até Colômbia
P. onca arizonensis : sul do Arizona até Sonora, México
P. onca veraecrucis: centro do Texas até o sudeste do México
P. onca goldmani : península de Yucatán até Belize e
Guatemala
P. onca palustris (a maior subespécie, pesando mais de 135
kg):22 Ocorre no Pantanal, regiões do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Brasil,
ao longo da bacia do rio Paraguai no Paraguai e nordeste da Argentina.
Distribuição geográfica e habitat
A onça-pintada é presente desde o México, passando pela
América Central, até a América do Sul, incluindo toda a bacia Amazônica, no
Brasil.3 Os países que a onça-pintada ocorrem são: Argentina, Belize, Brasil,
Bolívia, Colômbia, Costa Rica (particularmente na península de Osa), Equador,
Guiana Francesa, Guatemala, Guiana, Honduras, México,Nicarágua, Panamá,
Paraguai, Peru, Suriname, Estados Unidos e Venezuela. Foi extinta de El
Salvador e do Uruguai.2 Ocorre nos 400 km² do Reserva Natural de Cockscomb em
Belize, nos 5 300 km² da Reserva da Biosfera Sian Ka'an, no México, nos 15 000
km² do Parque Nacional de Manú no Peru, nos 26 000 km² do Parque Indígena do
Xingu e nos cerca de 1 800 km² do Parque Nacional do Iguaçu, ambos no Brasil, e
em muitas outras unidades de conservação ao longo de sua distribuição.
A inclusão dos Estados Unidos na lista é baseada em
ocorrências casuais no sudoeste do país, nos estados do Arizona, Texas e Novo
México.23 No início do século XX, a onça-pintada ocorria ao norte até o Grand
Canyon e ao oeste até o Sul da Califórnia.23
A ocorrência histórica da espécie inclui a metade sul dos
Estados Unidos no limite norte, e quase todo continente sul-americano, no
limite sul. Atualmente, sua distribuição ao norte recuou 1 000 km, e ao sul,
cerca de 2 000 km. Fósseis de onça-pintada, datados entre 40 000 e 15 000 anos
atrás, mostram a ocorrência dessa espécie na era do Gelo até o Missouri.24
A onça-pintada habita florestas tropicais na América do Sul
e América Central, áreas abertas, e com inundações periódicas, como o Pantanal.
Há uma preferência por áreas de floresta densa e chuvosa, sendo escassa em
regiões mais secas, como nos pampas argentinos, nas secas savanas do México, e
sudoeste dos Estados Unidos.25 A onça ocorre em florestas tropicais,
subtropicais e secas (incluindo, historicamente, as florestas de carvalho nos
Estados Unidos). A onça-pintada é dependente de cursos d'água permanentes,
vivendo preferencialmente próximo a rios e pântanos, e florestas chuvosas. Não
ocorre em altitudes maiores de 3 800 m, e evitam florestas montanas no México e
nos Andes.25
Existe evidência de que onças-preta e leopardos introduzidos
habitam florestas ao redor de Sydney, Austrália. Moradores da região reportaram
a presença de um grande predador de cor negra, mas excursões para capturar o
animal falharam em encontrar qualquer vestígio. O ecólogo Johannes J. Bauer
acredita de que se tem um grande felino na área, é mais provável que seja um
leopardo.26
Descrição
A onça-pintada é um animal robusto e musculoso. Tamanho e
peso variam consideravelmente: o peso normalmente está entre 56 a 96 kg. Os
maiores machos registrados pesavam até 160 kg (tendo o peso de uma leoa ou
tigresa), e as menores fêmeas chegavam a ter 36 kg.27 As fêmeas são entre 10 a
20 % menores que os machos. O comprimento da ponta do focinho até a ponta da
cauda varia de 1,2 m a 1,95 m.28 19 Sua cauda é a menor dentre os grandes
felinos, tendo entre 45 e 75 cm de comprimento. Suas pernas também são curtas,
consideravelmente mais curtas se comparadas a um tigre ou leão com mesma massa
corporal, mas são mais grossas e robustas. A onça-pintada tem entre 63 a 75 cm
de altura, se medida até a altura dos ombros.29 Comparada ao leopardo, a onça é
maior, mais pesada e atarracada.18
Variações no tamanho são observadas ao longo das regiões de
ocorrência da onça, com o tamanho tendendo a aumentar nos indivíduos nos
limites norte e sul da distribuição geográfica, com os menores indivíduos sendo
encontrados na Amazônia e regiões equatoriais adjacentes. Um estudo realizado
na Reserva da Biosfera Chamela-Cuixmala na costa do Pacífico no México,
reportou medidas de massa corporal ao redor de 50 kg, não muito maior que uma
suçuarana.30 Em contraste, no Pantanal, a média de peso foi de cerca de 100 kg,
e machos mais velhos não raramente chegavam a pesar mais de 130 kg.31 32 Onças
que ocorrem em ambientes florestais frequentemente são mais escuras na
coloração da pelagem e menores do que aquelas encontradas em regiões de campos
abertos (como no Pantanal), possivelmente, devido ao menor número de presas de
grande porte em florestas.25
A forma corporal atarracada e robusta torna a onça-pintada
capaz de nadar, rastejar e escalar.29 A cabeça é grande e a mandíbula é
desenvolvida e forte. A onça-pintada possui a mordida mais forte de todos os
felinos, capaz de alcançar até 910 kgf. É duas vezes a força da mordida de um
leão e só não é maior que a da mordida de uma hiena; tal força é capaz de
quebrar o casco de tartarugas.7 Um estudo comparativo colocou a onça-pintada
como em primeiro lugar em força de mordida, ao lado do leopardo-das-neves, e à
frente do leão e do tigre.33 É dito que uma onça é capaz de arrastar um touro
de até 360 kg por 8 m e quebrar ossos com as mandíbulas.34 A onça-pintada caça
grandes herbívoros de até 300 kg em florestas densas, como a anta, e seu corpo
forte e atarracado é uma adaptação a esse tipo de presa e ambiente. A cor de
fundo da pelagem da onça é uma amarelo acastanhado, mas pode chegar ao
avermelhado e marrom e preto, para todo o corpo.29 As áreas ventrais são
brancas.29 A pelagem é coberta por rosetas, que servem como camuflagem, usando
o jogo de luz e sombra do interior de florestas densas. As manchas variam entre
os indivíduos: rosetas podem incluir um ou várias pontas em seu interior, e a
forma das pintas também pode variar. As manchas e pintas da cabeça e pescoço
costumam ser sólidas, e na cauda, elas se unem, de forma a aparecer bandas.
Enquanto a onça-pintada lembra o leopardo, além dela ser
maior e mais robusta, as rosetas são diferentes nessas duas espécies: as
rosetas da pelagem da onça-pintada são maiores, menos numerosas, mais escuras,
são formadas por linhas mais grossas e possuem pintas no meio delas, que não
são encontradas nas rosetas do leopardo. As onças também possuem cabeças maiores
e arredondadas, e membros mais atarracados se comparados com os do leopardo.35
Melanismo
Polimorfismo na cor ocorre na espécie. Variedades melânicas
são frequentes. Em indivíduos totalmente pretos, quando visto sob a luz e de
perto, é possível observar as rosetas.
A forma totalmente preta (chamada de onça-preta) é mais rara
que a forma de cor amarelo-acastanhado, representando cerca de 6 % da
população, o que é uma frequência muito maior do que a taxa de mutação.36
Portanto, a seleção natural contribuiu para a frequência de indivíduos
totalmente negros na população. Existem evidências de que o alelo para o
melanismo na onça-pintada é dominante.37 Ademais, a forma melânica é um exemplo
de vantagem do heterozigoto; mas dados de cativeiro não são conclusivos quanto
a isso.
Apesar de ser conhecida popularmente como onça-preta, é
apenas uma variação natural, não sendo uma espécie propriamente dita.
Indivíduos albinos são muito raros, e foi reportada a
ocorrência na onça-pintada, assim como em outros grandes felinos.25 Como é
usual com o albinismo na natureza, a seleção natural mantém a frequência da característica
próxima à taxa de mutação.
Ecologia e comportamento
A onça-pintada é um superpredador, o que significa que está
no topo da cadeia alimentar e não é predada no ambiente em que vive. Também
pode ser considerada como uma espécie-chave, já que é importante no controle
das populações de mamíferos herbívoros e granívoros, contribuindo para a
manutenção da integridade dos ecossistemas florestais.38 39 Entretanto, qual o
efeito que a onça-pintada tem no ecossistema é difícil, pois os dados devem ser
comparados com ambientes em que ela não ocorre, e controlar o efeito das
atividades humanas em tais ambientes. É aceito que presas de tamanho médio
aumentam de população na ausência de superpredadores, e pensa-se que isso tem
um efeito cascata negativo no ecossistema.40 Porém, trabalhos de campo
mostraram que isso pode ser uma variabilidade natural, e que o aumento
populacional não se sustenta. Portanto, a hipótese do superpredador não é
largamente aceita.41
A onça-pintada também possui um efeito em outros predadores.
Ela e a suçuarana ou onça-parda, são frequentemente simpátricos e são estudadas
em conjunto. Onde a suçuarana é simpátrica com a onça-pintada, o tamanho da
primeira tende a ser menor que o das onça-pintadas locais. Estas últimas tendem
a matar presas maiores, geralmente, com mais de 22 kg, e a suçuarana, menores,
entre 2 e 22 kg.42 43 Esta parece ser uma situação vantajosa para a onça-parda.
Sua capacidade de expandir seu nicho ecológico, incluindo, de se alimentar de
presas menores, a torna mais adaptável que a onça-pintada a ambientes
perturbados pelo homem;38 o que se reflete em sua maior distribuição geográfica
e menor risco de extinção.
Dieta, forrageamento e caça
Como todos os felinos, a onça-pintada é um carnívoro
obrigatório, se alimentando somente de carne. É um caçador oportunista, e sua
dieta inclui até 87 espécies de animais. A onça pode predar, teoricamente,
qualquer vertebrado terrestre ou semi-aquático nas Américas Central e do Sul,
com preferência por presas maiores. Ela regularmente preda jacarés, veados,
capivaras, antas, porcos-do-mato, tamanduás e até mesmo sucuris.44 45 18 Entretanto,
o felino pode comer qualquer pequena espécie que puder pegar, como ratos,
sapos, aves (principalmente mutuns), peixes, preguiças, macacos e tartarugas;
um estudo conduzido no Santuário de Cockscomb, em Belize, revelou que a dieta
das onças era constituída principalmente por tatus e pacas.46 Em áreas mais
povoadas ou com grande número de pecuaristas, a onça-pintada preda o gado
doméstico, e muitas vezes parece ter um preferência por esse tipo de presa (no
Pantanal, foi constatado que até 31,7% de sua alimentação era constituída por
bezerros de gado bovino).45 47 Pelo grande porte, é capaz de se alimentar até
de outros felinos de tamanho menor, como a jaguatirica (Leopardus pardalis),
apesar de ser incomum.48
A onça-pintada geralmente mata com uma mordida no pescoço,
sufocando a presa, como é típico entre os mesmo do gênero Panthera, mas às
vezes ela mata por uma técnica única entre os felinos: ela morde o osso
temporal no crânio, entre as orelhas da presa (especialmente se for uma
capivara) com os caninos, acertando o cérebro.49 Isto também permite quebrar
cascos de tartaruga, após as extinções do Pleistoceno, quelônios podem ter se
tornado presas abundantes em seu habitat.25 50 A mordida na cabeça é empregada
em mamíferos, principalmente, enquanto que em répteis, como jacarés, a
onça-pintada ataca o dorso do animal, acertando a coluna cervical, imobilizando
o alvo. Embora capaz de rachar o casco de tartarugas, a onça pode simplesmente
esmagar o escudo com a pata e retirar a carne.51 Quando ataca tartarugas-marinhas
que vão nidificar na praia, a onça ataca a cabeça, e frequentemente decapita o
animal, antes de arrastá-la para comer.52 Ao caçar cavalos, a onça pode pular
sobre o dorso, colocar uma pata no focinho e outra na nuca, de forma de
deslocar o pescoço. Moradores de ambientes em que ocorre a onça-pintada já
contaram anedotas de uma onça que atacou um par de cavalos, e depois de ter
matado um, ainda arrastou o outro, ainda vivo.53 Em presas pequenas, como
pequenos cães, uma pancada forte com as patas é suficiente para matar.
Ilustração de uma onça-pintada matando uma anta, o maior
animal terrestre de sua distribuição geográfica.
A onça-pintada caça em espreita e formando emboscadas,
perseguindo pouco a presa. O felino anda de forma lenta, ouvindo e espreitando
a presa, antes de armar a emboscada ou atacá-la. Ela ataca por cima, através de
algum ponto cego da presa, com um salto rápido: as habilidades de espreita e
emboscada dessa espécie são consideradas inigualáveis tanto por povos indígenas
quanto por pesquisadores, e tal capacidade deve derivar do papel de ser um
superpredador nos ambientes em que vive. Quando arma a emboscada, a onça pode
saltar na água enquanto persegue a presa, já que é capaz de carregar grandes
presas nadando, sua força permite levar novilhos para a copa das árvores.51
Após matar a presa, a onça arrasta a carcaça para alguma
capoeira ou outro lugar seguro. Começa a comer pelo pescoço e peito, em vez de
começar pelo ventre. O coração e pulmões são consumidos, seguidos pelos
ombros.51 O requerimento diário de comida de um indivíduo com 34 kg (que é
menor peso encontrado em um indivíduo adulto) é de 1,4 kg.23 Para animais em
cativeiro, pesando entre 50 a 60 kg, mais de 2 kg de carne são recomendados.54
Em liberdade, o consumo é naturalmente mais irregular: felinos selvagens gastam
considerável energia e tempo para obter alimento, e podem comer até 25 kg de
carne de uma só vez, seguidos por longos períodos sem se alimentar.55 Ao
contrário das outras espécies do gênero Panthera, a onça-pintada raramente
ataca seres humanos. Muitos dos escassos casos reportados mostram que
tratavam-se de indivíduos velhos ou feridos, com dentes danificados. Às vezes,
se feridas ou ameaçadas, as onças podem atacar os tratadores em zoológicos.56
Território e comportamento social
Como muitos felinos, a onça-pintada é solitária, exceto
quando formam pequenos grupos de mãe e filhotes. Adultos encontram-se somente
no período de corte e acasalamento (embora socializações não relacionadas a
esses eventos foram observados anedoticamente51 ) e mantém grandes territórios
para si. Os territórios das fêmeas, que têm entre 25 e 40 km² de área, podem se
sobrepor, mas os animais geralmente se evitam nesses locais. Machos podem ter
áreas duas vezes maiores do que essas, variando o tamanho de acordo com a
disponibilidade de recursos, e seus territórios nunca se sobrepõem.51 57 A
onça-pintada usa marcas de arranhões, urina e fezes para marcar território.46
58
Como outros grandes felinos, a onça é capaz de rugir59 60 e
faz isso para repelir competidores: ataques com indivíduos intrusos podem ser
observados em liberdade.50 Seu rugido lembra uma repetitiva tosse, e as
vocalizações podem consistir também de grunhidos.32 Brigas por cópulas entre
machos podem ocorrer, mas são raras, e comportamentos evitando a agressão podem
ser observados46 Quando ocorre, o conflito é tipicamente territorial: o território
de um macho geralmente compreende o de uma ou duas fêmeas, e eles não toleram a
invasão por intrusos.51
A onça-pintada é geralmente descrita como um animal noturno,
mas é, mais especificamente, crepuscular (pico de atividade é durante a
madrugada ou o crepúsculo). Ambos os sexos caçam, mas os machos se deslocam
para mais longe do que as fêmeas, diariamente, o que é condizente com seus
grandes territórios. A onça-pintada pode caçar durante o dia se existe caça
disponível; é um felino relativamente enérgico, com cerca de 50 a 60% do tempo
mantendo-se ativo.25 A natureza arredia e a inacessibilidade de seus habitats
preferidos tornam a onça-pintada um animal difícil de ser avistado e de ser
estudado.
Reprodução e ciclo de vida
As fêmeas da onça-pintada alcançam a maturidade sexual com
cerca de 2 anos de idade, e os machos entre 3 e 4 anos. Acredita-se que esse
felino copule durante todo o ano em estado selvagem, embora os nascimentos se
concentrem em épocas que as presas abundem.61 Pesquisas com machos em cativeiro
suportam a hipótese de que os acasalamentos ocorrem durante o ano todo, com
nenhuma variação em características do sêmen e da ejaculação: baixo sucesso
reprodutivo também tem sido observado em cativeiro.62 O estro dura entre 6 e 17
dias, em um ciclo de 37 dias, e fêmeas demonstram o período fértil com marcação
de urina e aumento nas vocalizações.61 Ambos os sexos se deslocam mais durante
o período da corte.
O casal se separa após o ato sexual, e as fêmeas
providenciam todo o cuidado parental. A gestação dura entre 93 e 105 dias: elas
podem dar à luz a até quatro filhotes, mas o mais comum é nascerem dois de cada
vez. A mãe não tolera a presença de machos após o nascimento dos filhotes,
visto o risco de infanticídio: tal comportamento também se observa no tigre.51
Os filhotes nascem cegos, e abrem os olhos após duas
semanas. São desmamados após três meses, mas podem permanecer no ninho por até
6 meses, quando passam a acompanhar a mãe nas caçadas.63 Eles continuarão com
ela até os dois anos de idade, antes de estabelecerem um território sozinhos.
Jovens machos são primeiramente nômades, competindo com outros mais velhos até
que conseguem obter um território. Em estado selvagem, a onça-pintada vive
entre 12 e 15 anos de idade, mas em cativeiro, pode viver até mais de 23 anos,
sendo um dos felinos com maior longevidade.32
Conservação
Atualmente, é classificada, pela União Internacional para a
Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, como "quase
ameaçada", visto sua ampla distribuição geográfica.2 A onça-pintada é
regulada pelo Appêndice I da CITES: todo comércio internacional de
onças-pintada é proibido. A caça é proibida na maior parte dos países onde
ocorre: Argentina, Colômbia, Guiana Francesa, Honduras, Nicarágua, Panamá,
Paraguai, Venezuela, Estados Unidos e Uruguai; sendo que a caça de
"animais-problemas" (aqueles que atacam o gado doméstico) é permitida
no Brasil, Costa Rica, Guatemala, México e Peru.31 Na Guiana e no Equador, a
espécie carece de proteção legal.31
Estudos detalhados realizados pela Wildlife Conservation
Society mostraram que a espécie perdeu 37 % da sua distribuição histórica, e
possui um status de conservação desconhecido em 17 % da sua área de ocorrência
atual.3 A onça-pintada foi extinta em grande parte do extremo norte e sul de
sua distribuição geográfica, assim como em algumas regiões da América Central e
no nordeste, leste e sul do Brasil.3 64 Encorajador para a conservação da
espécie, é de que a probabilidade de sobrevivência a longo prazo é considerada
alta em 70 % de seu habitat, notadamente nas regiões da Amazônia, do Gran Chaco
e do Pantanal.3 Entretanto, apenas nesta regiões citadas a onça ainda tem
chances de sobrevivência a longo prazo, enquanto que no restante de sua
ocorrência, incluindo o México; a América Central; o Cerrado, a Caatinga e a
Mata Atlântica, no Brasil; ela encontra-se em algum grau de ameaça de extinção
a curto e médio prazo.2 As estimativas populacionais variam ao longo da
distribuição geográfica, sendo que em Belize, estimou-e que existiam cerca de
600 a mil onças no país; no México, há variação do grau de conservação ao longo
do país , sendo que, em 1990, por exemplo, na província de Chiapas, havia 350
onças; e na Reserva da Biosfera Maya na Guatemala havia entre 465-550.31 As
maiores ameaças à onça-pintada são a fragmentação de seu habitat e a caça.2 Em
áreas mais alteradas pelo homem, atropelamentos em rodovias que cortam unidades
de conservação são também fatores que diminuem significativamente as
populações.65 66
A caça para obtenção para o comércio de peles já foi um
grande problema na conservação da espécie: na década de 1960, houve uma
diminuição significativa no número de indivíduos, pois anualmente mais de 15
000 peles foram exportadas ilegalmente da Amazônia Brasileira.67 A
implementação da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna
e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção, em 1973, resultou numa forte queda
do comércio de peles.67
Entretanto, é a caça por parte de fazendeiros, que considera
o animal uma ameaça às criações de gado, uma das atividades que mais tem
contribuído para extinções locais da espécie.31 Em áreas próximas a grandes
populações humanas, como em Guaraqueçaba, as onças-pintadas acabam mostrando
uma preferência pelo gado doméstico, talvez por uma diminuição na densidade
populacional de suas presas habituais, o que acaba incomodando os criadores de
gado.47
Como observado na região da Mata Atlântica, as estratégias
de conservação da onça-pintada são dificultadas pela intensa fragmentação de
seu habitat em algumas regiões. Algumas unidades de conservação em que existem
onças em pequeno número estão isoladas: como o caso da Reserva Biológica de
Sooretama e a Reserva Natural Vale, que contam com menos de 20 indivíduos e são
os únicos fragmentos de floresta capazes de abrigar onças-pintada. Sendo assim,
é necessário que se criem "corredores" unindo as unidades de
conservação, impedindo, inclusive, que os animais precisem sair de áreas
florestadas e causar problemas às populações rurais.68 3 69 Foi criada a
iniciativa, idealizada por Alan Rabinowitz, de que se una todas as áreas de ocorrência
da onça-pintada, desde o norte do México até a América do Sul, constituindo o
chamado Paseo del Jaguar.69 68
Conservação no Brasil
O Brasil detém cerca de 50% das populações de onça-pintada
em estado selvagem, a maior parte delas, na Amazônia.70 É no Brasil em que se
foi registrada as maiores densidades da espécie, também. Ela ocorre em todos os
biomas brasileiros (exceto nos Pampas, ao qual já foi extinta), com diferentes
estados de conservação em cada um destes.70 Estudos demográficos concluíram que
uma população de mais de 200 indivíduos em uma dada unidade de conservação é a
adequada para uma sobrevivência a longo prazo da espécie: a maior parte destas
áreas protegidas está na Amazônia e no Pantanal. Na Mata Atlântica, nenhuma
população é viável por mais de 100 anos.70
Dado esta situação, a onça-pintada é listada como
"vulnerável" pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis, entretanto, seu status de conservação varia pelo
país, sendo considerada "criticamente em perigo" no estados de São
Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro,71 72 o que alerta para
uma extinção da espécie nesses estados em um futuro muito próximo.
Na Mata Atlântica, a população total não ultrapassa
estimativas entre 156 e 180 indivíduos, mas a população efetiva não é de mais
de 50 indivíduos.73 74 Neste bioma, a Serra do Mar, o Parque Nacional do Iguaçu
e o Parque Estadual do Turvo (que são contínuos entre si por meio do
"Corredor Verde", da província de Misiones, na Argentina), o Pontal
do Paranapanema, o Parque Nacional de Ilha Grande e as várzeas do rio Ivinhema
são os locais com as maiores populações de onça-pintada.73 De fato, a espécie
está restrita a unidades de conservação nestas regiões, e em número muito
reduzido em algumas delas: no Parque Nacional do Iguaçu, um dos últimos locais
no sul do Brasil onde ainda é encontrada, estima-se que exista no máximo 12
indivíduos,66 no Parque Nacional do Monte Pascoal, a estimativa está entre 1 e
5 animais, e apenas uma deve ocorrer na Serra do Espinhaço.73 A Mata Atlântica
é o bioma tropical com maior probabilidade de extinção da onça-pintada a curto
prazo, e apesar de 24% dos remanescentes de floresta serem adequados para a
ocorrência da espécie, ela ocorre em apenas 7% deles.74 Ademais, a recuperação
das populações de onça-pintada, neste bioma, é problemática, visto o alto grau
de degradação e perda de habitat: é necessário a integração, via corredores
ecológicos das unidades de conservação onde ela ainda ocorre.75
O Pantanal, no Brasil, é uma das áreas em que existem as
maiores populações de onça-pintada.
Na Caatinga, a situação também é crítica, com estimativas
não ultrapassando 250 indivíduos adultos, apesar de que pouco se conhece a
cerca da demografia da onça-pintada neste bioma.76 A população está dividida em
5 subpopulações, sendo que apenas as que ocorrem no complexo dos parques
nacionais da Serra da Capivara e da Serra das Confusões, no Piauí, possuem boas
perspectivas de sobrevivência a longo prazo.76 Nestes parques, a densidade de
onças ultrapassa 2 indivíduos por 100 km², entretanto, ela é muito baixa em
outras regiões, não chegando a 0,5 indivíduo por 100 km².76 Além da crescente
perda de habitat, a onça-pintada na Caatinga é ameaçada pela caça, principalmente
como forma de retaliação por fazendeiros.76
No Cerrado, a onça-pintada é classificada como situação
melhor que na Caatinga e Mata Atlântica, entretanto, ela também está ameaçada,
principalmente por conta do agronegócio, que converteu mais da metade do
Cerrado em campos cultivados nos últimos 50 anos.77 A construção de usinas
hidrelétricas e a mineração também é razão para a perda do habitat.77 A caça
como forma de retaliação por fazendeiros e a diminuição de presas disponíveis
são ameaças diretas às populações remanescentes, mesmo em áreas protegidas.77
As estimativas é de que não exista mais de 323 indivíduos adultos, divididos em
11 subpopulações.77 A maior parte das onças do Cerrado encontra-se no complexo
dos parques nacionais do Araguaia e das Nascentes do Rio Parnaíba, no complexo
dos parques nacionais do Grande Sertão Veredas e Cavernas do Peruaçu e no norte
de Goiás e sul do Tocantins.77
O Pantanal possui uma das maiores densidades registradas da
onça-pintada (entre 6,5 e 7 indivíduos por 100 km²).78 Além, disso, este bioma
foi pouco alterado pelo homem, apesar de na bacia do Alto Paraguai mais de 50%
da vegetação já ter sido alterada. Essa situação coloca a onça-pintada no
Pantanal como "quase ameaçada", situação melhor que no Cerrado
("em perigo"), na Mata Atlântica e Caatinga (ambas em situação
"crítica").78 Visto ser região com criação de gado, a caça como
retaliação por conta de ataques ao gado, é uma das maiores ameaças.78
Entretanto, em unidades de conservação do Pantanal, como o Parque Nacional do
Pantanal Matogrossense, a onça-pintada tem boas perspectivas de sobrevivência a
longo prazo.75 70
Na Amazônia, apesar de ser estimado ocorrer até mais de
10000 indivíduos adultos (a maior estimativa para todos os biomas), com uma
densidade média de 1 a 2 onças a cada 100 km² (com maior densidade em áreas
alagáveis bem preservadas), é considerada como "espécie vulnerável":
o crescente desmatamento, a caça e a diminuição de presas disponíveis coloca a
onça-pintada em algum grau de ameaça na Amazônia brasileira.4 As populações não
estão separadas, mas em um futuro próximo, ela pode estar divida entre 4 ou 5
subpopulações.4 Destas, 4 estariam no "arco do desflorestamento", e
se o atual ritmo de desmatamento continuar, as populações do sudoeste de
Rondônia, nordeste do Mato Grosso norte do Maranhão estarão extintas em 100
anos (há chance de sobrevivência apenas das populações no sul do Pará).4 No
século XX, principalmente nos anos 60, a grande ameaça à onça-pintada na
Amazônia era o comércio internacional de peles, atividade que está proibida
atualmente.4 Ainda assim, a caça por conta de conflito de interesses com
fazendeiros de gado e a diminuição de presas disponíveis constituem-se em
ameaças importantes.4
Um plano nacional para a conservação da espécie foi
estabelecido em 2009.79 foram definidas 20 unidades de conservação como
prioritárias para a conservação da onça-pintada no Brasil, entre terras
indígenas, áreas de uso sustentável e de proteção integral.79 Embora na
Amazônia e Pantanal grande parte da vegetação é contínua, isso não ocorre nos
outros biomas, principalmente na Mata Atlântica, o que torna necessário estudos
de ecologia de paisagem para a aplicação do plano.79 Com a aplicação desse
plano, com a integração das várias unidades de conservação da onça-pintada, é
possível salvar a espécie da extinção, principalmente por conta de ainda
existirem populações saudáveis e viáveis a longo prazo no Brasil.79
Conservação nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, foi onde ocorreu o recuou da ocorrência
ao norte da onça-pintada. Ela foi citada, historicamente, por Thomas Jefferson
em 1799.80 Há inúmeras citações da espécie na Califórnia, duas tão ao norte
quanto Monterey em 1814 (por Langsdorff) e em 1826 (por Beechey).81 O povo
Kumeyaay de San Diego e o povo Cahuilla de Palm Springs tinham palavras para a
onça-pintada e ela ocorreu neste locais até 1860.82 A única descrição de uma
ninhada de onças nos Estados Unidos foi nas Montanhas Tehachapi da Califórnia,
antes de 1860.81 Em 1843, Rufus Sage, um explorador e experiente observador
registrou a presença da onça-pintada na nascente do rio Platte Norte, ao norte
do Longs Peak no Colorado. O mapa de Sebastião Caboto de 1544 tinha um desenho
de onça-pintada nos vales da Pensilvânia e Ohio. Historicamente, a espécie foi
registrada no leste do Texas, norte do Arizona e Novo México. Entretanto, desde
a década de 1940, a onça-pintada tem se limitado ao sul desses estados.
Artefatos de nativos americanos relacionados a esse felino sugerem uma
ocorrência desde o Noroeste Pacífico até a Pensilvânia e a Flórida.83
Atualmente, os registros de onça-pintada nos Estados Unidos
se resumem a avistamentos eventuais de machos, provavelmente não residentes.64
A espécie foi rapidamente eliminada pelos americanos nos Estados Unidos. A
última fêmea foi morta em 1963, nas White Mountais, no Arizona. A caça da
onça-pintada foi proibida em 1969, mas já não restava nenhuma fêmea, e os
únicos dois machos encontrados foram mortos. Em 1996, Warner Glenn, um fazendo
e guia de caça de Douglas, encontrou uma onça-pintada nas Montanhas Peloncillo
e se tornou um pesquisador da espécie, instalando câmeras que registraram
outros quatro indivíduos.84 Nenhum desses machos registrados no Arizona durante
15 anos foram avistados dede 2006.85 Até que, em 2009, um indivíduo nomeado
Macho B, morreu logo após ter sido marcado pelo Arizona Game and Fish
Department (AGFD). Em 2011, um macho de cerca de 90 kg foi fotografado perto de
Cochise, sul do Arizona, após ter sido detectado por seus cães. Um segundo
avistamento foi feito em 2011, também no Arizona, e pesquisadores confirmaram a
presença de dois indivíduos próximo à fronteira com o México em 2010.86 Em
setembro de 2012, outro indivíduo foi fotografado na Serra de Santa Rita do
Arizona, o segundo registro em dois anos.87 aparentemente, esse mesmo indivíduo
foi fotografado inúmeras vezes em 9 meses, até junho de 2013.88
Em 1996 e 2004, guardas florestais no Arizona fotografaram e
documentaram onças na parte sul do estado. Entre 2004 e 2007, dois ou três
onças foram reportadas por pesquisadores ao redor do Refúgio Nacional da Vida
Selvagem Buenos Aires no sul do Arizona. Um deles, chamado "Macho B",
já havia sido avistado em 1996.89 Para que exista uma população permanente e
viável nos Estados Unidos, a proibição da caça, qa existência de presas, e a
conectividade com populações do México são essenciais.90 Em 25 de fevereiro de
2009, um macho de 53,5 kg foi capturado e marcado em um área a sudoeste de
Tucson, que é uma região muito ao norte do que esperado, significando que deva
existir alguma população residente no sul do Arizona.91 Esse ano era o mesmo
que foi fotografado em 2004.91 Em 2 de março de 2009, descobriu-se que esse
indivíduo, "Macho B", possuía insuficiência renal, e foi
eutanasiado.92 É a onça-pintada com maior longevidade em estado selvagem.92
O muro fronteiriço Estados Unidos-México pode inviabilizar o
estabelecimento de populações de onça-pintada nos Estados Unidos, já que pode
impedir o fluxo gênico com indivíduos residentes no México.93
Aspectos culturais
Em culturas pré-colombianas das Américas Central e do Sul a
onça-pintada foi um símbolo de força e poder. Entre as culturas andinas, o
culto ao jaguar foi disseminado pela cultura Chavín e passou a ser aceito na
maior parte do que é hoje o Peru a partir de 900 a.C. A cultura Moche, do norte
do Peru, utilizava a onça como símbolo de poder em muitas das suas cerâmicas.94
95 96
Na Mesoamérica, a cultura Olmeca, precoce e influente na
região da Costa do Golfo, aproximadamente contemporânea da cultura Chavín, desenvolveu
um distinto "homem-jaguar" motivo de esculturas e figuras que mostram
onças estilizadas ou seres humanos com características de onça. Na civilização
maia, acreditava-se que a onça-pintada facilitava a comunicação entre os vivos
e os mortos e protegia a família real. Os maias viam esses felinos poderosos
como os seus companheiros no mundo espiritual. Uma série de governantes maias
tinham nomes que incorporavam a palavra maia para a onça-pintada, b'alam. A
civilização asteca compartilhou essa imagem do jaguar como representante do
governador e como guerreiro. Os astecas formaram uma classe de guerreiros de
elite conhecidos como guerreiros jaguares. Na mitologia asteca, a onça-pintada
foi considerada o animal totêmico do poderoso deus Tezcatlipoca.97
Cultura contemporânea
A onça-pintada ainda é amplamente usada em manifestações
simbólicas. É o animal nacional da Guiana, e é representada em seu brasão.98 A
bandeira do Departamento do Amazonas, da Colômbia, representa uma silhueta
preta de onça pulando em direção a um caçador.99 A onça-pintada também é
representada na cédula de cinquenta reais, no Brasil.100 Mesmo em indígenas
sul-americanos contemporâneos a onça faz parte da mitologia e folclore, sendo
um animal que é capaz de dar aos homens, o poder sobre o fogo.
O sinônimo de onça-pintada, "jaguar", é utilizado
amplamente em nomes de marcas, como no carro Jaguar. Esse mesmo nome também é
utilizado em franquias esportivas, como no time da National Football League,
Jacksonville Jaguars, e no time de futebol mexicano, Jaguares de Chiapas. Uma
banda de rock ganhadora do Grammy, "Jaguares", teve a escolha de seu
nome baseada na imponência da onça-pintada, conhecida como jaguar em vários
países da América Latina.
Uma onça-preta perdida em uma cidade da América do Sul é o
personagem central no romance de 1941, Black Alibi, de Cornell Woolrich.
Nos Jogos Olímpicos de Verão de 1968, na Cidade do México,
uma onça-pintada vermelha foi o primeiro mascote oficial.101